Antes de falar sobre o dom de línguas, gostaria de dar uma introdução sobre o que são e para que servem os dons espirituais, dos quais o dom de falar em outras línguas faz parte.

“Cada um exerça o dom que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas.” (1 Pedro 4.10)

   Os dons espirituais são frutos da graça de Deus para com o homem, é algo que o homem recebe a nível espiritual para edificação da igreja de Cristo. Esses dons se manifestam das mais variadas formas,  existe a apalavra de sabedoria, a cura, a capacidade de falar em línguas, de traduzi-las, operar milagres, entre outros.
   Em 1 Cor 12 Paulo fala que todos os dons procedem do mesmo lugar, ele demonstra  que os dons são dados para cada um servir o próximo e isso faz parte da unidade do corpo de Cristo, esse circulo de unidade se fecha quando entendemos que alem de tudo proceder do Espírito Santo, o dom só tem um fim que é bem comum e nunca o bem próprio.

A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. (1Cor 12:7)


   Tendo isso em mente, vamos falar um pouco mais sobre o dom de línguas.


  Dois livros bíblicos que tratam sobre o dom de línguas são Atos e 1 Coríntios. Atos não é um livro fundamentalmente normativo ou doutrinário. É uma obra histórica que narra corretamente os primeiros anos da Igreja cristã. Por sua vez, 1 Coríntios é um livro doutrinário que traça normas claras de conduta visando ao desenvolvimento da igreja. Apesar da diferença de enfoque, ambos os livros apontam para a mesma realidade a respeito das línguas.
   O dom de línguas teve sua primeira aparição aos 120 “discípulos de Cristo” (At 2), em outras ocasiões se deu em recém-convertidos (At 10.44-46; 19.6,7). Em resumo, o livro de Atos olha para o dom de línguas de uma maneira positiva. Ele é a demonstração da vinda do Espírito Santo sobre a Igreja como Jesus prometeu (At 1.8 cf. Jo 14.16; 15.26; 16.7).
  Embora no livro de Atos seja evidente que o dom de línguas se trata de idiomas humanos, ainda temos a carta a igreja de Corinto onde Paulo aborda mais uma vez esse dom. No entanto, nem todos creem que o dom de abordado em 1 Cor 14 seja o mesmo de Atos 2. Eu tentarei mostrar aqui que não existe nem uma evidencia bíblica para acreditarmos que existam dois tipos de dons de línguas e que se não existe essa evidencia e o dom de línguas em Atos é claramente um idioma humano, em 1 Coríntios não é diferente.


  • Deixando claro o que é dito em Atos 2



Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.
De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.

Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo.

Ouvindo-se este som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua. Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: "Acaso não são Galileus todos estes homens que estão falando? Então, como os ouvimos, cada um de nós, em nossa própria língua materna? Partos, Medos e Elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e árabes. Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua! (Atos 2:1-11)


  Eu destaquei alguns pontos para esclarecer o que penso ser o correto entendimento.


   Lucas narra a historia dizendo que os discípulos que ali se encontravam começaram a falar em ‘outras línguas’, no grego nós temos para ‘outras’ a palavra ‘heteros’ que significa basicamente ‘diferente’ e para a palavra ‘linguas’ nós temos no grego a palavra ‘glossa’ que significa ‘língua como membro do corpo, língua, idioma ou dialeto’.  Então quando se diz que os discípulos estavam falando ‘hetero glossa’, está dizendo que eles falavam ‘ um idioma diferente ’ do comum, creio que outro detalhe do texto que atesta essa verdade é esse paralelo entre a palavra ‘glossa’ e ‘dialektos’ ambos com o significado de idioma. Não é de se  admirar que os que ouviam se questionavam ‘Acaso não são Galileus todos estes homens que estão falando?’ Pois esse Galileus, provavelmente incultos em sua maioria, estavam falando outros idiomas. No encontro para a festa de Pentecostes vinham Judeus de todas as nações com os mais diversos idiomas e cada um entendia o seu próprio idioma ‘pois cada um os ouvia falar em sua própria língua’. Jesus já havia dito que os crentes receberiam poder e falariam em novas línguas ( Mar 16:16, 17 ) e no livro de Atos, Jesus adverte para que os discípulos não saiam de Jerusalém ate que descesse o Espírito e eles fossem revestidos de poder para anunciar o evangelho, ninguém anuncia o evangelho em uma língua ininteligível, e o fato de todos os visitantes na festa de pentecostes terem entendido o que foi dito, foi a confirmação do que Jesus falou.
   
Atos 1:8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

   Pedro após o acontecimento também discorre sobre o assunto falando que ali tinha sido a descida do Espírito de Deus como tinha profetizado o profeta Joel, as grandezas de Deus foram anunciadas, o livro de atos mostra algo como a ‘inauguração’ do Reino de Deus e alertava dizendo: O Reino de Deus está aberto a todo povo, a toda língua e a toda nação. ’ ( E eles falam idiomas humanos ).     No restante do livro de Atos aparecem mais algumas manifestações desses dons como em  (At 10.44-46; 19.6,7)  e só com muito esforço para dizer que isso é algo mais do que um idioma humano.


  •  Sobre o texto de 1 Cor 14.



   Creio que primeiramente é importante entender o que ocorria na igreja do Corinto naqueles dias.
    A cidade de corinto era uma cidade portuária e por isso tinha muita influencia, muito fluxo de pessoas, e também bastante dinheiro. Porem não era só isso, o livro In the Steps of St. Paul observa: “Corinto, situada entre dois portos, desenvolveu um cosmopolitismo misturado aos vícios das nações estrangeiras cujos navios ficavam ancorados em seus portos.” As fraquezas e os vícios do Oriente e do Ocidente se encontravam e se misturavam no cadinho da cidade.      
    Em resultado disso, Corinto se tornou descaradamente luxuosa, decadente em sentido moral — a cidade mais lasciva da Grécia antiga. Viver como os coríntios, ou ser corintianizado, tornou-se sinônimo de vida devassa e imoral. Esse estilo de vida de Corinto de alguma maneira, atrapalhava a relação entre os Cristãos. Eles ainda mantinham certa soberba e outros defeitos adquiridos com o a vida secular. Paulo então entre outros motivos, escreveu a carta para por certa ordem que havia se perdido na igreja.


  • A confusão na igreja do Corinto


   O apóstolo Paulo pregou pela primeira vez a mensagem do Messias em Corinto durante sua permanência de um ano e meio lá, em 50-51 d.C., quando ele reuniu uma congregação formada de judeus e gentios nesse centro comercial do sul da Grécia. Dirigindo-se aos membros da Igreja de Corinto, o apóstolo Paulo escreveu que eles foram enriquecidos “em toda a palavra e em todo o entendimento.” I Coríntios 1:5. Além disso, Deus lhes proporcionou uma abundância de poder em suas vidas a tal ponto que não lhes faltaram os dons espirituais.


   Porém, a ética da Igreja de Corinto deixou muito a desejar. A exuberância dos dons espirituais não gerou uma Igreja santa e irrepreensível conforme a confiança demonstrada pelo apóstolo Paulo (ver I Coríntios 1:8). Pelo contrário, foi uma Igreja comprometida seriamente com: 



a) carnalidade (I Coríntios 3:1; 5:1-3); 



b) imaturidade e infantilidade (I Coríntios 3:1 e 2);



c) Ciúmes, contendas e divisões (I Coríntios 1:11-13; 3:3 e 4);



d) Demandas judiciais na justiça comum (I Coríntios 6:1-8);



e) Incontinência e desregramento na Ceia do Senhor (I Coríntios 11:17-22);



f) Pecado de incesto (I Coríntios 5:1).



   As declarações do apóstolo Paulo foram bastante contundentes. Sem margem de dúvida, a situação da igreja de Corinto contrastava com a pureza e profunda espiritualidade vivida pela Igreja de Deus no dia de Pentecostes.



  • O dom de linguas na igreja do Corinto



    Então conhecendo um pouco das condições da igreja de Corinto ao receber a carta e como era a maneira de viver da cidade, vou continuar fazendo um comentário resumido de 1 Cor 14 na parte que aborda o dom.

1 Coríntios 14

1 Segui o amor; e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. 
No versículo anterior Paulo exalta ainda mais o fruto do amor, atestando que por ele os Cristãos devem nortear seu viver. Como muitos na igreja estavam agindo por simples vontade de ser ‘espiritual’, Paulo então dizia que isso nada a ver com amor tinha. ]

  2Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios.    3Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação.    4O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.    
[ Muitos usam esse trecho para justificar o seu falar ininteligível de silabas desconexas, mas será isso mesmo que quer dizer? Primeiro gostaria de salientar que o mesmo termo usado em Atos 2, ‘glossa’ é usado aqui, e só lembrando ele significa idioma, sim um idioma humano. As pessoas que tentam usar trecho das escrituras para justificar o falar desconexo, sempre pegam apenas as partes: ‘ Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus’ e ‘ O que fala em língua edifica-se a si mesmo’. Porem não é correto interpretar esse trecho isolando as partes, Paulo na verdade esta advertindo que o dom não foi feito para edificar a si mesmo, mas para a edificação da igreja como já foi dito no inicio desse estudo. Por isso ele faz a relação entre falar em línguas e profetizar, mostrando a superioridade de profetizar pois profetizar edifica a todos, e essa é a maneira certa de utilizar o dom. ]

5Ora, quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis, pois quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que também intercede para que a igreja receba edificação.   
[ Aqui Paulo continua atestando a superioridade do dom quando usado para todos, ele apenas compara o dom de línguas com o de profetizar, quando esse dom é traduzido e então se torna benéfico para todos. Veremos mais a frente que ele somente permite o dom se ele for traduzido, mostrando que essa idéia de ‘ falar somente a Deus não é algo que Paulo ensina aqui’. ]

6E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei, se vos não falar ou por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?    7Ora, até as coisas inanimadas, que emitem som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara?    8Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?    9Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar. 

[ Aqui se percebe um tom de ironia, onde Paulo usa exemplos do cotidiano conhecido por todos para mostrar, que nem um valor teriam esses instrumentos se os sons produzidos por eles não fossem distinguíveis. Paulo fala algo como: Do que adiantaria se eu saindo de onde estava, viesse até vocês e falasse coisas que vocês não pudessem entender? É assim, como sons confusos, são aqueles que falam em linguas sem amor. Infelizmente era isso que estava ocorrendo na igreja de Corinto, onde os Cristãos por ânsia de demonstrarem seus dons acabavam por fazer apenas barulhos sem sentido, onde ninguém entendia nada. ]

 10Há, por exemplo, tantas espécies de vozes no mundo, e nenhuma delas sem significação.    11Se, pois, eu não souber o sentido da voz, serei estrangeiro para aquele que fala, e o que fala será estrangeiro para mim.    12Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja.   
[ Alem da palavra utilizada aqui ser ‘glossa’ que de maneira nem uma quer dizer algo alem de idiomas, nesse trecho eu consigo encontrar outro argumento incontestável para o fato do dom aqui ser o mesmo de Atos 2, idiomas humanos. Paulo compara o sons produzidos pelo falar em línguas sem tradução como o som de um estrangeiro falando. Ele estava mostrando como, por mais que eles falassem muitos idiomas, eram como estrangeiros para seus irmãos pois ninguém entendia. E termina falando que por mais que eles estejam desejosos de dons espirituais, eles devem ser usados para a edificação da igreja e mais uma vez, não para si próprio.  ]


13Por isso, o que fala em língua, ore para que a possa interpretar.    14Porque se eu orar em língua, o meu espírito ora, sim, mas o meu entendimento fica infrutífero.    15Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.    16De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o amém sobre a tua ação de graças aquele que ocupa o lugar de indouto, visto que não sabe o que dizes?    17Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado. 

[  O foco de Paulo continua na necessidade das línguas serem inteligíveis, ele diz :’ Quem fala em língua, ore para poder interpretar’. Ele quer que as pessoas tragam a razão para o culto prestado a Deus, e que todos possas compreender as bênçãos pronunciadas. No versículo 14 parece que Paulo da a entender que as pessoas que eram capacitadas pelo ES a falar em outra língua, não tinha entendimento do que estava sendo dito, apenas seu espírito comunicava as verdades de Deus, e esse fato fazia ele desejar para a igreja que orassem com o espírito mas também com o entendimento, Um ponto importante para se ressaltar aqui é que não é pela falta de entendimento do interlocutor a respeito do que esta sendo dito, que a língua se torna algo extraterrestre, os Cristãos quando movidos pelo Espírito a falar em línguas realmente não compreendiam o que estava sendo dito, mas ainda eram línguas humanas. O culto racional é algo muito estimado por Paulo e é algo que diferencia a igreja cristã das mais diversas seitas, cheias de transes e rituais primitivos. Infelizmente hoje a igreja tem trazido esses transes e esse primitivismo de volta para o culto, com a pretensão de estar agradando a Deus. ]

  18Dou graças a Deus, que falo em línguas mais do que vós todos.    19Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua.  

[ Aqui um argumento imbatível para os que exaltam o dom de línguas e ainda o tratam como marca do batismo com o Espírito Santo, alem de Paulo te-lo diminuído, tendo mostrado que ele sem tradução é inferior a profecia, agora ele diz que mesmo falando mais línguas que os crentes em Corinto, ele prefere falar cinco palavras com entendimento, do que dez mil em qualquer outra língua. Parece que embora esse dom seja importante e Paulo não tenha o negado, ele não tem tanta primazia assim como algumas denominações afirmam. ]

20Irmãos, não sejais meninos no entendimento; na malícia, contudo, sede criancinhas, mas adultos no entendimento.   21Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.    22De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes.    23Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos?    24Mas, se todos profetizarem, e algum incrédulo ou indouto entrar, por todos é convencido, por todos é julgado;    25os segredos do seu coração se tornam manifestos; e assim, prostrando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, declarando que Deus está verdadeiramente entre vós.   

Não sede meninos no entendimento, isso é, não pensem que existe algum valor em balbuciar silabas que ninguém entende, busquem os dons que edificam toda a igreja, pois ai está o amor. Mais um atestado imbatível de que são idiomas humanos aqui falados, Paulo diz: ‘Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.’ Isso é uma citação de Isaias, sobre quando Deus falou com os israelitas rebeldes através dos Assírios. O povo sabia que ao ouvir o idioma de um povo estrangeiro, algo bom não estava acontecendo, Ele sabia das maldições pactuais estabelecidas por Deus em Deuteronômio 28 em caso de desobediência, e que um dos castigos era o de trazer uma nação de longe, e de língua desconhecido, para castigar Israel (v.49). Isso é repetido em Jeremias 5.15 e em Isaías 28.11,12. Sempre que Deus levantava profetas para exortar o povo ao arrependimento, para os que criam, as declarações proféticas funcionavam de sinal. Já os que não criam nos profetas, só passavam a acreditar que deveriam ter se voltado para Deus quando ouviam as línguas desconhecidas da nação inimiga sitiando a cidade santa.  Paulo diz que esse juízo de Deus é como sinal para os descrentes, assim como ocorreu na época de Isaias com os Assírios, também ocorreu em Atos 2 quando os idiomas (humanos) falados serviram como sinal, e agora não era diferente, os idiomas falados por eles era para ser um sinal para os descrentes ( foras dos muros da congregação), pois dentro da congregação as línguas deveriam ser entendidas, para que houvesse a edificação. Como os indoutos dariam o amém se não entendessem o que estava sendo dito? O que os visitantes pensariam deles se ouvissem cada um falar uma lingua diferente ao mesmo tempo, não diriam: estão loucos? Pois mais precioso é que se profetize para que todos entendam, e assim tenham os segredos do coração revelados e pela misericórdia de Deus venham a se arrepender. ]


26Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.    27Se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e cada um por sua vez, e haja um que interprete.    28Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.    29E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem.    30Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.    31Porque todos podereis profetizar, cada um por sua vez; para que todos aprendam e todos sejam cosolados;    32pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas;    33porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos,   

E pra encerrar essa parte, ele exalta a necessidade de cada dom, e mostra a importância de cada pessoa que exerce o dom. Todos devem trabalhar em união para o bem da comunidade, todos devem entender a importância do outro. Ele da as instruções sobre o correto do dom de línguas, sobre a necessidade de interprete e a organização na hora da fala. Deus não é Deus de confusão, as coisas precisam de ordem diz Paulo. Ainda se nós acabássemos por entender que o que é chamado ‘ Dom de línguas’ hoje, fosse realmente, ainda assim estaria completamente contrario a bíblia, pois só se vê barulho, bagunça, desordem e nunca uma tradução. E sobre o dom de profecia o mesmo, é necessário ordem, cada um no seu tempo, dando vez a todos. ]


  • Algumas observações que considero importantes.



1 - Na  expressão “línguas estranhas”, o termo “estranhas” não se encontra no original grego, contrariando assim a ideia de alguma manifestação incompreensível do dom. Veja a tradução da Nova Versão Internacional: “Pois quem fala em uma língua [ou outro idioma] não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios” 1 Coríntios 14:2.

2 – o falar em línguas é um sinal necessário para o batismo do Espírito Santo, como é dito pelas igrejas pentecostais e neo-pentecostais?
    Absolutamente não, Paulo fala sobre isso na 1 carta aos Coríntios.

1 Coríntios 12: 28- 30 Assim, na Igreja, Deus estabeleceu alguns primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, os que realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas.  Acaso são todos apóstolos? São todos profetas? Ou são todos mestres? Todos têm o dom de realizar milagres?  Todos têm dons de curar? Falam todos em línguas? Todos as interpretam?  Contudo, buscai com zelo os melhores dons.

  Num corpo existem muitos membros, eles são diferentes com funções diferentes mas são todos importantes, nem todos curam, nem todos falam em línguas porem todos tem o MESMO Espírito. Essa é a mensagem de Paulo, leia todo o capitulo para uma melhor compreensão.
   Não existe arrependimento possível sem o ES, todo Cristão o possui. E ele veio basicamente para  convencer do pecado, da justiça e do juízo.

Mas eu afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas, se eu for, eu o enviarei.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. ( João 16: 7-8 )

3 – O texto de 1 Coríntios 13, quando fala de língua dos anjos da espaço para compreendermos as línguas faladas como um idioma celestial?

   Creio que no mínimo para entendermos bem esse trecho deveríamos ler o capitulo 12, o 13 e o 14. Paulo estava tentando explicar sobre os dons de uma maneira que a igreja se organizasse e prezasse pelo o que era mais importante, então no capitulo 13 ele discorre sobre a superioridade do amor. Nesse trecho da carta ele usa de um artifício chamado hipérbole.

  Hipérbole é uma figura de linguagem, classificada como figura de pensamento, que consiste em exagerar uma ideia com finalidade expressiva. É um exagero intencional na expressão.

  Então em 1 cor 13:1, Ele usa desse exagero para mostrar para a comunidade de Coríntios que, por mais que eles prezassem tanto por falar outros idiomas humanos, isso não vale de nada sem o amor, mesmo que até a língua dos anjos fosse falada ( um exagero ), sem o amor isso também não teria valor ( a mensagem ).
Acho engraçado que o ÚNICO versículo que de onde vem toda essa ideia de ‘língua dos anjos’ é esse, e não faz sentido algum. Creio que entendendo que não existe esse negocio de homem falar língua de anjo, já desmistifica toda a idéia propagada no meio pentecostal. Como é que os anjos falavam enquanto estavam na terra? Eles balbuciavam silabas sem sentido, ou falavam a nossa língua? Isso por que a linguagem é um meio de comunicação entre duas pessoas, se uma só fala e a outra não entende bulhufas, não é comunicação e não adianta dizer que é no reino espiritual, porque não cola.

4 – Uns chegam ao ponto de dizer que a linguagem do meio pentecostal, mesmo que não seja entendida por ninguém ainda é um idioma humano. Nem sei se deveria perder tempo respondendo isso, mas esse vídeo do Yago é interessante.   https://www.youtube.com/watch?v=dW4zdJqwhME

5 - Autores pentecostais reconhecem que a glossolalia não é um fenômeno restrito ao tempo, ao cristianismo, ou mesmo à religiosidade. Dentre os praticantes da glossolalia: antigos sacerdotes do deus Apolo; os xamãs; os participantes do culto vodu no Haiti; a seita Zar da Etiópia; os esquimós; diversas tribos africanas; e mesmo os ateístas e agnósticos. Hasel cita diversos lingüistas pesquisadores da glossolalia que traçam paralelos entre os fenômenos cristãos, não-cristãos e ateístas. A própria glossolalia auto-aprendida é mais comum do que se reconhece. Conscientes destes fatos, pentecostais crêem a glossolalia não deixa de ser um “dom do Espírito”, mesmo existindo uma explicação psicológica para ela.


Uma breve analise histórica do dom de línguas.


   O dom de línguas como é conhecido hoje tem origem no pentecostalismo, não logo no seu inicio mas veio com o tempo, enquanto existiam os movimentos avivalistas que exaltavam muitos os dons, e faziam seus cultos exibindo transes, e certo fenômenos ‘estranhos’, não demorou tanto assim pra que o ‘dom de línguas’ viesse a fazer parte disso. Embora houvesse supostas manifestações do dom de língua antes do século 20, foi com Charles Parham em Topeka, Kansas numa reunião  com seus estudantes que pesquisaram a Bíblia e concluíram que o falar em línguas era a evidência física do batismo do Espírito. Agnes Ozman, uma estudante, passou a falar em “língua chinesa”, segundo Parham.  
   Porem com Willian  Saymour discípulo de Parham que houve a disseminação da glossolalia, no conhecido avivamento da rua Azusa, nesse contexto o  falar em línguas foi exaltado e centralizado como doutrina.

   O reavivamento da Rua Azusa foi uma reunião de avivamento pentecostal que se deu em Los Angeles, Califórnia, liderada por William Joseph Seymour, um pregador afro-americano. Teve início com uma reunião em 14 de Abril de 1906 em um prédio que fora da Igreja Metodista Episcopal Afro-americana e continuou até meados de 1915. O avivamento foi caracterizado por experiências de êxtase espiritual acompanhadas por falar em línguas estranhas, cultos de adoração, e mistura inter-racial. Os participantes foram criticados pela mídia secular e teólogos cristãos por considerarem o comportamento escandaloso e pouco ortodoxo, especialmente para a época. Hoje, o avivamento é considerado pelos historiadores como principal catalisador para a propagação do pentecostalismo no século XX. Este foi o inicio e é a raiz de todas as igrejas pentecostais que conhecemos.
  

  • A glossolalia na Patrística



    A razão de se estudar a glossolalia na patrística é o fator antiguidade. Os Pais da Igreja tinham a seu favor a proximidade do primeiro século, quando a glossolalia do N.T. se manifestou. Eles tiveram contato com a tradição cristã recente e com documentos primitivos. Como autoridades eclesiásticas, desfrutavam de elevada significância para os cristãos dos seus dias. Eu nãoo partilho da posição que tem nos Pais uma autoridade doutrinária. Porém, valorizo sua relevância documental como indicador histórico sobre o que se pensava sobre glossolalia do segundo ao quarto século. A patrística funciona como critério histórico de avaliação da glossolalia pentecostal. Afinal, há relação de continuidade ou não entre a glossolalia nos Pais da Igreja e no pentecostalismo?

Séculos II e III

  Irineu (c.115-200) expõe facetas do seu conceito de glossolalia. Parece se referir a uma fala extática não-idiomática. Descreve e condena as ações de um certo Marcos que “profetizava”, sob influência “demoníaca”. Marcos compartilhava o seu charis (“dom”) e outros também “profetizavam”. Seduzia mulheres e lhes prometia a charis. Quando a recebiam, falavam algo sem sentido: “Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada... seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3

   Irineu define o “profetizar” de Marcos como “pronunciar algo sem sentido”, caracterizando uma fala não-idiomática. Porém compara o “pronunciar algo sem sentido” e o “profetizar”. O próprio fato de usar o termo “profetizar”, ao invés de “falar línguas” denota que, para Irineu, o falar em línguas não possuía semelhança com elocuções não-idiomáticas. Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Co. 2:6, explicando que “os perfeitos” falam em “todos os tipos” as línguas: “... nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,... e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus...”. (Contra Heresias V,VI,1)

  Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação. A partir disto, presume-se que não se deva tratar de uma glossolalia não-idiomática, pois não se tem diferenciá-la. A glossolalia não-idiomática pode ser vista como uma “glossa”, naturalmente “uma” e não várias. Conclui-se que o peso da terminologia indica que Irineu se referiu aqui a uma linguagem idiomática. Parafraseando, “os irmãos falavam em todos os tipos de idiomas naturais”.

 O movimento de Montano (c.150-200) envolveu um êxtase religioso, com elocuções não-idiomáticas, semelhantes à glossolalia. De acordo com descrições  de Apolinário (c.170A.D.), registradas por Eusébio (c.265-?), Montano entrou em uma espécie de delírio e balbuciava “coisas estranhas”. Ele “encheu” duas mulheres com o “falso espírito”, e elas falaram “extensa, irracional e estranhamente”: “ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da igreja (...) E ele, excitado ao lado de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada.” (História da Igreja V,XVI:8,9)

   Depreende-se deste texto que o fenômeno linguístico montanista envolvia: (a) uma forte expressão emocional, deduzida das menções de “êxtase”, “frenesi” e delírio; (b) o texto indica uma linguagem não-idiomática, de “balbucios”, e um falar “estranho”, “irracional”. Tomadas em conjunto, estas características assemelham se à glossolalia pentecostal. A comparação torna-se tão evidente, ao ponto de o montanismo ser apelidado de “protótipo dos pentecostais”.



   Orígenes (c.195-254), se opôs a um certo Celso, que clamava ser divino, e falava línguas incompreensíveis: “A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.”  (Contra Celso, VII:9) 

  Uma linguagem ininteligível soa “estranha”, “obscura” e “fanática” para Orígenes. Assim como para Irineu e mais tarde foi para Eusébio, os três sequer comparam os fenômenos lingüísticos de Marcos, Montano e Celso a uma suposta glossolalia não-idiomática. Não se pode dizer que condenaram “falsas glossolalias” porque sequer a consideravam como “glossolalias”. Para Orígenes, as palavras “completamente ininteligíveis”, eram mais o subproduto de uma distorção religiosa. 

   Arquelau, bispo de Carcar no fim do segundo século comenta sobre o dom de línguas no Pentecostes. O contexto indica uma identificação como idiomas naturais. Para Arquelau, Mane era incapaz de conhecer a língua dos gregos porque não possuía o dom de línguas do Espírito, que o capacitaria a entendê-las: “Ó seu bárbaro persa, você nunca foi capaz de conhecer a língua dos gregos, dos egípcios, ou dos romanos, ou de qualquer nação, (...). Pelo que diz a Escritura? Que cada homem ouvia os apóstolos falarem em sua própria língua através do Espírito, o Parácleto”. (Disputa com Mane, XXXVI) 

   As Constituições dos Santos Apóstolos e a Didaquê Siríaca, (datados do segundo ao quarto século) também mencionam o falar em línguas. Nas Constituições se afirma que nem todos precisam ter o dom de falar em línguas, confrontando-se com a crença na glossolalia como “O” dom:  “Portanto não é necessário que cada um dos fiéis devam expulsar demônios, ou ressuscitar o morto, ou falar em línguas...”. (Constituições, VIII, I, 1) 

  Afirma-se também que os apóstolos “falaram novas línguas”. A referência subseqüente a nacionalidades (judeus e gentios) pode ser uma evidência em favor de línguas estrangeiras: “... nós falávamos em novas línguas, como o Espírito nos sugeria e pregamos a ambos os judeus e gentios, que ele é o Cristo de Deus...”.(Constituições, V, III, 20) 89. 

  Na Didaquê Siríaca comenta-se o evento do Pentecostes. Os discípulos estavam preocupados sobre como iriam pregar ao mundo, se eles não conheciam os idiomas. Então, receberam o dom de falar idiomas estrangeiros e foram para os países onde esses idiomas eram falados: “de acordo com a língua que cada um deles tinha diferentemente recebido, para que a pessoa se preparasse para ir ao país no qual a língua era falada e ouvida”.90 (Didaquê Síriaca, seção introdutória). 


Estas são algumas citações dos pais da igreja que mostram a sua posição contraria aqueles que falavam em línguas ininteligíveis. E também como o dom de língua não era considerado 'O' dom. A origem de tais 'dons' também vinham normalmente de facções não cristãs, consideradas hereges pelos cristãos. 
   Percebemos que a origem do dom como conhecemos hoje é muito tardia, tendo seu inicio normalmente atestado no inicio do seculo vinte com o avivamento da rua Azusa, vimos que na patrística sua visão é negativa, e que numa correta interpretação do texto em 1Cor 14, o dom de linguás seriam idiomas humanos. 
   Creio que esses pontos, são evidencias suficiente para mostrar que o que vemos hoje, não é o mesmo que os apóstolos presenciaram no inicio da igreja, não estou dizendo com isso que os dons não existem mais, ou que o dom de línguas não exista mais. É provável que exista, só que com uma manifestação menos visível, em lugares distantes e com pessoa que com certeza, diferente do que vemos hoje, não querem ganhar dinheiro em frente as câmeras de TV. É certo que a função do dom era o evangelismo, e se na igreja primitiva os de Corinto não souberam fazer bom uso, hoje os que de alguma maneira tem esse dom, fazem no secreto por que o Deus que os vê, os recompensa. 
    E um ultimo toque sobre qual deveria ser nossa preocupação referente a língua é essa:

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.

Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.

Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo.
Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto.
Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha.
Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniqüidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno.
Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e é domada pela espécie humana;
a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero.
Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim!
Acaso pode sair água doce e água amarga da mesma fonte?
Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce.
Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. ( Tiago 3:1-13 )
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